Introdução
A idéia que determinados tipos de alimentos podem ser benéficos à saúde vem de longa data, sendo inclusive referida por Hipócrates, há 25 séculos. Os chás, por exemplo, são conhecidos por diversas culturas como tendo diferentes efeitos benéficos à saúde. No entanto, a partir da década de 80, inicialmente no Japão e em seguida nos Estados Unidos e em vários países da Europa começou-se a aceitar que a alimentação poderia exercer um papel na preservação e inclusive na melhora da saúde das populações.
Evidências epidemiológicas têm mostrado essa associação. A menor incidência de osteoporose e de câncer de mama na mulher asiática são atribuídas à dieta rica em vegetais e à soja, altamente consumida pela população. Na região do Mediterrâneo, com dieta rica em frutas e vegetais, óleo de oliva e carboidratos, há alta prevalência de pessoas com níveis elevados de colesterol, mas não correlacionada à maior incidência de infartos. Outra população característica é a dos esquimós com alto consumo de gorduras sem correspodente aumento de doenças cardiovasculares. Neste caso, atribui-se ao consumo de peixe, rico em ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa (ômega 3 e ômega 6). Sem falar no ‘paradoxo francês’, que apresenta dieta rica em gordura, mas com incidência de doenças cardiovasculares bem mais baixas que outros países que consomem menos gorduras. Neste caso a proteção é atribuída ao vinho, principalmente o vinho tinto.
Conceito
Não existe consenso quanto à definição, mas alguns grupos têm usado alguns conceitos operacionais:
ILSI (Europa): “um alimento pode ser considerado ‘funcional’ se for satisfatoriamente demonstrado que ele afeta de forma benéfica uma ou mais funções do corpo, além dos efeitos de uma nutrição adequada, de forma a ser relevante tanto para melhorar o estado de saúde e bem estar, quanto reduzir o risco de doença.”
A expressão “alimento fisiologicamente funcional” foi proposta no Japão no início da década de 80, quando foi definido como “qualquer alimento ou ingrediente que tem um impacto positivo na saúde, na performance física ou no estado mental de um indivíduo, além do seu valor nutritivo”.
Um alimento pode tornar-se funcional por meio dos seguintes métodos:
1 Eliminado um componente conhecido como prejudicial à saúde (por ex. proteínas alergênicas);
2 Aumentando a concentração e/ou a biodisponibilidade de componentes benéficos;
3 Adicionando componentes que não estão normalmente presentes;
4 Substituindo um componente negativo por outro benigno;
5 Preservando a biodisponibilidade ou garantindo a estabilidade de um componente conhecido por produzir efeito funcional durante o processamento.
Um alimento funcional deve permanecer alimento e deve mostrar efeito quando consumido em quantidades normais. Isso implica que estão fora dessa concepção os suplementos dietéticos na forma de comprimidos, tabletes, cápsulas ou xaropes. Os alimentos funcionais e/ou seus componentes devem ser seguros, ou seja, acréscimo de ingredientes para fortalecer alimentos processados, só pode ser realizado após comprovação de sua segurança.
Classificação
Cinco categorias de alimentos podem ser classificadas como alimentos funcionais: fibras dietéticas, vitaminas e minerais, substâncias bioativas, ácidos graxos, e pré-, pró-e simbióticos.
COMPONENTES COM AÇÃO FUNCIONAL
OLIGOSSACARÍDEOS:
frutooligossacarídio e inulina (prebióticos);
POLISSACARÍDEOS:
solúveis e insolúveis(fibra);
FLAVONÓIDES:
quercitina, catequina, genisteína, daidzeina, antocianinas;
CAROTENOIDES:
licopeno, luteína, zeaxantina, beta-caroteno;
FITOSTERÓIS:
silosterol,sitostanol,campesterol,stigmastero, orizanol;
ÁCIDOS GRAXOS:
Linoleico (6), linolênico(3), eicosapentaenoico(EPA); docosahexaenoico(DHA).
Todos esses grupos têm demonstrado efeitos benéficos. A ingestão de fibras reduz o colesterol total, o LDL-colesterol e os lípides séricos. Exercem efeito favorável na sensibilização da insulina e na glicose e melhoram a constipação. As fibras podem ser encontradas em frutas, cereais, verduras, sucos. Algumas vitaminas como a vitamina A,E e C são conhecidas como antioxidantes. A ingestão de quantidades adequadas de cálcio e de vitamina D é indispensável para reduzir o risco de osteoporose. Alta ingestão de potássio pode ajudar a controlas a hipertensão. Quantidades extras de vitaminas e minerais podem ser encontradas em sucos de frutas, cereais e leite materno. Substâncias bioativas como os polifenóis e os flavonoides, que são conhecidos como anti carcinogênicos e anti hipertensivos, são encotrados em bebidas(vinho,cerveja), chocolate, bebidas derivadas do leite e produtos derivados da soja. Os ácidos graxos, como o ômega 3 e ômega 6 são importantes para a coagulação sanguínea e para a diminuição do LDL-colesterol e dos triglicérides. Eles podem ser encontrados óleos, peixes e produtos para bebês.
Em pediatria tem grande importância os probióticos, que são microorganismos que interferem na flora intestinal exercendo papel protetor contra infecções e manifestações alérgicas, além de diminuir a intolerância à lactose. Alguns probióticos são lactobacilli, Bifidobacteria, Streptococci, Saccharomyces. Prebióticos são substâncias que influenciam favoravelmente a microbiota da pessoa (ex.inulina).
ALGUNS ALIMENTOS E BENEFÍCIOS ATRIBUÍDOS
Alcachofra e chicória: importante fonte de inulina. A alcachofra também possui um flavonoide chamado silimarina, que é um potente antioxidante.
Alho: contém compostos sulfurados. Apresenta propriedades anti-infecciosas. Também foram isolados outros compostos que apresentam efeitos hipotensor, hipoglicemiante, antiviral, antitumoral, hipocolesterolêmico, antifúngico, antioxidante, etc. Os componentes sulforados podem prevenir a ativação de nitrosaminas.
Cebola: fonte rica em flavonoides (quercetina) e em compostos sulforados.
Cenoura: fonte de beta-caroteno. As cenouras púrpuras tem cerca de duas vezes mais alfa e beta caroteno que as cenouras amarelas.
Frutas: ricas em polifenóis de diferentes tipos, conforme a fruta.
Leguminosas: feijão, ervilhas, lentilha, grão de bico e soja. As leguminosas são ricas em frutooligossacarídios e saponinas, com ação antioxidante e anticancerígina.
Tomate: rico em licopeno, carotenoide associado à redução de diversos tipos de câncer. O licopeno também está presente na melancia, na goiaba vermelha , no mamão papaya e nos diferentes molhos de tomate.
Azeite de oliva: as propriedades benéficas do azeite são atribuídas ao seu conteúdo de ácido graxos monoinsaturados (ácido oléico), agentes fenólicos triterpeno, esqualeno e lignanas. Esses componentes tem ação antiaterogênica, hipotensora, anticancerígena. O ácidograxo oleico está presente, além do azeite, azeitona, abacate, oleaginosas (castanha, nozes, amêndoas, amendoim).
Chás: chá verde e chá preto: contém óleo voláteis, vitaminas, minerais, purinas e polifenóis, principalmente catequinas. Os polifenóis presentes no chá são bons antioxidantes. O chá pode diminuir os níveis de colesterol, diminuir a pressão arterial, protegendo as lipoproteínas LDL-colesterol da oxidação e reduzindo a agregação plaquetária.
Chocolate: o chocolate é rico em polifenóis, e estudos com cacau em pó rico em polifenóis mostram que o cacau apresenta forte capacidade antioxidante.
Aveia: é um cereal da alta qualidade nutricional, rico em fibras solúveis denominadas beta-d-glucanas, solúveis em água e resistentes aos processas digestivos. As veias possuem ação hipocolesterolêmica, por apresentarem capacidade de aumentar a síntese de ácido biliares e reduzir a absorção do colesterol. Também existem evidências de efeito protetor no desenvolvimento do câncer de cólon, e diminuição da absorção da glicose.
Vinhos e uvas: está bem estabelecido atualmente, que o consumo de bebidas alcoólicas em pequenas quantidades provoca alterações positivas por meio da melhora do metabolismo dos lipídios, aumento de atividade anti-oxidante e melhora do estado de coagulação, contribuindo para a diminuição da morbidade por doenças coronarianas.