Gestação e lactação
Não há, até o momento, nenhuma evidência de que a restrição de alimentos da dieta da mãe reduza o risco de alergias nos seus filhos. A restrição alimentar durante a gestação relaciona-se com maior risco de prejuízo de crescimento fetal.
Mais importante do que restringir é intervir na dieta da gestante e do lactente, Estudo multicêntrico alemão com mais de 10.000 gestantes incluídas mostrou associação de ingestão de margarina e óleos vegetais com maior incidência de dermatite atópica nos filhos. Por sua vez, a ingestão de peixe mostrou efeito preventivo, reduzindo o risco de dermatite atópica em 25% nesse mesmo estudo. A ingestão de peixe durante a gestação também se relaciona com redução de 45% no risco de asma até os 6 anos de idade.
A dieta materna balanceada também deve ser estimulada durante a amamentação. Estudo de corte finlandês, com lactantes atópicas e não atópicas, encontrou relação direta da ingestão de gordura total e saturada materna com a sensibilização a algum antígeno (teste de hipersensibilidade cutânea) em seus bebês aos 12 meses de vida (odds ratio = 1,16; intervalo de confiança de 95%: 1,001-1,36; p = 0,0048).
- Implicações práticas: a dieta da gestante e do lactente deve ser equilibrada e balanceada, com todos os alimentos que sejam saudáveis. Evitar ingestão excessiva de alimentos industrializados (ricos em gordura trans), ingerir gordura saturada na quantidade adequada e manter consumo regular de peixe, pelo menos duas vezes por semana.
Aleitamento materno
Enquanto o sistema imunológico de bebê amadurece, especialmente o trato gastrointestinal, ele deve receber um alimento dinâmico e balanceado com diversos nutrientes e fatores especializados para:
- Proteção contra infecções locais e sistêmicas (ácidos graxos poli-insaturados de cadeia muito longe, vitamina A, lactoferrina, lisozima,receptores CD14 e TLR-2).
- Formação de uma microbiota intestinal saudável oligossacarídeos, prebióticos, lactose).
- Estímulo para manutenção da integridade do epitélio intestinal (fatores epidérmicos de crescimento).
- Transferência de antígenos em pequenas quantidades (conforme a alimentação da mãe) e estímulos à tolerância oral(TGF-beta, IL-10 e IL-7).
A prática preconizada de aleitamento materno reduz o risco de doenças alérgicas em geral. Em estudo de corte sueco com 3.825 lactentes, o aleitamento materno exclusivo por mais de 4 meses (tempo mediano de 5,5 meses) associou-se com redução de 37% no risco de desenvolvimento de asma (alérgica) até os 8 anos de idade.
Na impossibilidade da manutenção do aleitamento materno, em lactentes com risco de atopias, a melhor opção serio o uso de fórmulas infantis hidrolisadas (parcialmente ou extensamente).
Ensaio clínico conduzido pelo governo alemão testou a eficácia na prevenção de doenças alérgicas, de 3 fórmulas infantis hidrolisadas, utilizadas nos primeiros 4 meses de vida em lactentes de risco (fórmula extensamente hidrolisada de soro de leite, extensamente hidrolisada de caseínas e parcialmente hidrolisada de soro de leite) em comparação a um grupo que recebeu fórmula polimérica à base de leite de vaca e um grupo em aleitamento materno exclusivo. As crianças que receberam fórmulas hidrolisadas tiveram menor incidência a doenças alérgicas, especialmente de dermatite atópica, até os 6 anos de idade, em comparação àquelas que receberam fórmulas polimérica à base de leite de vaca. Estudo recente com dados de 5 países europeus (Dinamarca, França, Alemanha, Espanha e Suíça) moa do aleitamento materno exclusivo por 6 meses e a sua manutenção durante a introdução de alimentos complementares, até os 2 anos de idade ou mais, são as estratégias mais eficazes e eficientes para a prevenção de muitas doenças, incluindo as alérgicas. Na impossibilidade da manutenção do aleitamento materno, a opção nos lactentes de risco é a utilização de fórmulas hidrolisadasstrou que nesses locais, na impossibilidade do aleitamento materno, a utilização de fórmula parcialmente hidrolisada representa uma estratégia com bom impacto econômico em termos populacionais, em comparação às fórmulas com proteínas intacta, para prevenção de dermatite atópica e com melhor custo-efetividade em relação às extensamente hidrolisadas.
- Implicações práticas: a prátic
Alimentação complementar
A alimentação complementar é um dos tópicos que carecem ainda de evidencias mais robustas para definição de estratégias ideias de prevenção de varias doenças, incluindo as alérgicas.
O que se sabe, atualmente, é que não se deve introduzir alimentos complementares ates dos 4 meses nem apos os 6 meses de vida. Também não há motivo para retardar a introdução de alimentos reconhecidos como mais " alérgicos" com o objetivo de prevenir possíveis alergias, mesmo em lactentes de risco. Pelo contrário, estudo mostra que retardar a introdução de ovo após os 10 meses e peixe após os 8 meses aumenta o risco de sensibilização para alérgenos alimentares aos 5 anos de idade.
- Implicações práticas: alimentos complementares devem ser introduzidos a partir dos 6 meses de vida, na vigência do aleitamento materno, sem restrições para alimentos saudáveis, de todos os grupos, devendo-se evitar monotonia
O papel da vitamina D e do ácido fólico
Evidências recentes sugerem que a carência de vitamina D pode estar relacionada ao desenvolvimento de doenças alérgicas, especialmente de asma. A ingestão adequada de vitamina D durante a gestação associa-se com menos número de episódios de asma e chiado nos bebês. Outros autores sugerem que, além das baixas concentrações de vitamina D, a redução da exposição solar adequada se relacionaria com maior chance de desenvolvimento de alergias.
A manutenção de concentrações adequadas de ácidos fólico em mulheres em idade fértil e gestante é fator central para prevenção de defeitos do tubo neural. Diante disso há recomendação de suplementação universal nesse grupo, em diversos países por sua vez, quando se fala em doenças alérgicas, um interessante estudo publicado recentemente mostrou que os lactentes cujas mães receberam durante a gestação suplementação de ácido fólico em dose superior a 500g/dia, em comparação a >200g/dia, tiveram maior risco de desenvolvimento de dermatite atópica com 1 ano de idade (odds ratio = 1,85; intervalo de confiança de 95%: 1,14-3,02; p = 0,013). Mais estudos são necessários para que se compreenda a relevância desses achados a longo prazo.
- Implicações práticas: a vitamina D e o ácido fólico tem ação na "programação" sistema imunológico. Os primeiros estudos com desfechos clínicos relevantes mostram impacto no aparecimento de algumas doenças alérgicas, entretanto os resultados ainda são incipientes. a manutenção saudável e exposição solar adequada é, no momento, a recomendação mais segura quando se pense no desenvolvimento de doenças alérgicas.
2 Comentários
Boa tarde Dr Jonas,
Adorei seu site, repleto de informações importantes e de fácil entendimento, além de muito prático de navegar.
Parabéns por mais essa conquista! Admiro muito seu trabalho.
Até breve,
Susana Frigini.
Obrigado Suzana! Novos desafios e uma medicina personalizada para nossos pequenos pacientes.